Em meio ao esforço para conquistar votos no Congresso, o governo Lula liberou recursos a pedido do deputado federal Josimar Maranhãozinho (PL-MA), correligionário do ex-presidente Jair Bolsonaro. O parlamentar gravou um vídeo na véspera da votação da reforma tributária na Câmara comemorando a destinação de R$ 49,8 milhões do Ministério das Cidades para o município de Zé Doca, localizado a 315 quilômetros de São Luís, capital do estado. A cidade agraciada é governada pela irmã do parlamentar, Josinha Cunha (PL). A reunião não foi registrada na agenda pública.
No vídeo divulgado nas redes sociais, Maranhãozinho anunciou, ao lado do ministro Jader Filho e do senador Weverton Rocha (PDT-MA), a destinação dos recursos para Zé Doca. O dinheiro foi liberado oficialmente na semana anterior à gravação, em 26 de junho, quando o governo fazia uma investida para estreitar a relação com parlamentares.
Ao GLOBO, Maranhãozinho afirmou que foi ao gabinete de Jader Filho para tratar dos recursos que serão aplicados em uma obra do município de Zé Doca paralisada desde 2013. “Uma obra que há anos estamos tentando junto ao ministério e a Caixa Econômica Federal para conseguir concluir”, justificou por meio de mensagem o parlamentar, que nega ter falado sobre a reforma tributária na reunião com o ministro.
Procurado, o senador Weverton Rocha (PDT-MA), que participou da reunião com Maranhãozinho no gabinete de Jader Filho, nega que a liberação dos recursos tenha relação com as votações no Congresso e disse que o governo tem retomado “todas as obras paradas”.
— A gente já tem reivindicado isso há algum tempo – disse ele.
Segundo o Ministério das Cidades, o dinheiro destinado a Zé Doca tem como fonte o Fundo de Arrendamento Residencial (FAR), voltado ao programa Minha Casa, Minha Vida. Em nota, a pasta afirmou ainda que a construtora que havia assumido a obra informou à Caixa não ter mais capacidade técnica para concluir as unidades habitacionais e, por isso, o contrato foi rescindido. “Os valores suplementares auxiliarão na recuperação de serviços paralisados e na conclusão das obras”, afirma.
Tanto Maranhãozinho como a sua mulher, a deputada federal Detinha (PL-MA), contrariaram a orientação do partido e de Bolsonaro na quinta-feira ao votarem a favor da proposta que muda o regime de impostos no país. Ao todo, 20 dos 99 integrantes do PL, partido do ex-presidente, apoiaram a reforma tributária.
Na sexta-feira, o deputado do PL voltou a contrariar a própria legenda ao rejeitar um pedido para adiar a análise do projeto que favorece o governo nos julgamentos do Conselho de Administração de Recursos Fiscais (Carf). A proposta foi aprovada, em nova vitória do Palácio do Planalto.
Na semana passada, o casal de deputados Josimar e Detinha foi recebido pelo ministro Alexandre Padilha (PT), das Relações Instituições, o que motivou mais registros nas redes. Antes disso, a parlamentar do PL já tinha posado ao lado do ministro da Pesca, André de Paula (PSD), enquanto Maranhãozinho apareceu sorridente em uma foto com o ministro da Justiça, Flávio Dino (PSB).
Maranhãozinho foi alvo de um inquérito da Polícia Federal que apura um suposto desvio de emendas parlamentares enviadas a prefeituras maranhenses comandadas por aliados dele. O deputado foi gravado ao longo da investigação manuseando caixas de dinheiro em seu escritório em São Luiz, em uma ação controlada autorizada pela Justiça.
Em outro inquérito, a PF concluiu que o congressista participou de um esquema que utilizava empresas fantasmas para fraudar obras de pavimentação. O caso foi enviado à Procuradoria-Geral da República (PGR), que, procurada, disse que não pode comentar porque o processo está sob sigilo.
A defesa do deputado nega as acusações e tem dito que elas são “inconsistentes e fundadas em indícios que não condizem com a realidade dos fatos, inexistindo justa causa para a propositura de qualquer ação penal”. (O Globo)