O ministro da Casa Civil, Walter Braga Netto e o presidente Jair Bolsonaro (18.fev.2020)
Foto: Valter Campanato/Agência Brasil
Jair Bolsonaro recebeu previsões muito pessimistas e ouviu até que a economia pode ter um tombo de 7% neste ano graças ao novo coronavírus. O prognóstico quase catastrófico está por trás do flerte do presidente com a agenda econômica intervencionista.
O canto da sereia ouvido no Palácio do Planalto defende que, em reação à recessão, é preciso um grande pacote de obras financiadas pelo governo e que isso ainda poderia dar um empurrão para Bolsonaro na campanha eleitoral de 2022. O ministro da Economia, Paulo Guedes, não concorda com nada disso e, por isso, cresce o desconforto na equipe econômica.
Uma ala crescente do governo carrega debaixo do braço uma série de previsões quase catastróficas sobre o que acontecerá nos próximos meses. Além da recessão de até 7%, estão na lista de potenciais problemas a disparada do desemprego, risco de deflação e até a chance de conflagração social. A saída de Sergio Moro e as acusações feitas pelo ex-ministro contra o presidente Bolsonaro acentuaram o tom alarmista e só fez crescer o discurso de que é preciso agir rapidamente, diz um dos envolvidos no debate.
Essa ala que defende maior presença do Estado conta com vários militares e tem a figura do ministro da Casa Civil, general Walter Braga Netto, como principal nome.
Ao presidente Bolsonaro, o grupo defende que é preciso usar uma parte do dinheiro público para religar a economia. Com a lembrança de que o país não é um eletrodoméstico que volta a trabalhar com máxima potência quando volta à tomada, o grupo argumenta que a solução é usar dinheiro público para induzir o crescimento e a geração de empregos que, em um segundo momento, teria a maior participação privada.
As obras públicas, porém, não cairiam nos mesmos problemas vistos no passado. O grupo defende que, para evitar corrupção e desvios como nas obras da Copa do Mundo e Olimpíadas, é preciso adotar regras rígidas de governança (compliance), contratação de seguros e fiscalização externa.
Aí, a economia encontra a política. Para convencer Bolsonaro, o grupo também colocou na mesa a avaliação de que, depois da pandemia, a agenda de problemas para o presidente voltará com força ao noticiário: relações conflituosas com o Congresso, gabinete de ódio, milícia e rachadinha estão entre os temas que podem voltar à vidraça do governo que, agora, não tem mais a credibilidade e o capital político de Sergio Moro. E, para se desvencilhar, o grupo sugere uma ação proativa do governo para mudar o debate.
Se o governo adotar um programa amplo de obras pelo Brasil com foco nas regiões mais pobres como o Nordeste e grandes periferias, diz o grupo, haverá forte impacto na geração de empregos e o presidente será protagonista. Se isso acontecer, continuam, Bolsonaro vai se reconectar com a população mais pobre em um momento crucial: 2022, quando ocorrem eleições presidenciais.
Mesmo com esse pacote de supostas soluções entregue ao presidente, Bolsonaro mantém voto de confiança em Paulo Guedes e nenhuma decisão foi tomada até agora.
Assim, resta saber qual caminho o presidente vai escolher em meio ao turbilhão da crise de saúde pública, econômica e política: se será a frieza do ajuste das contas públicas ou o sedutor caminho das obras públicas que tantos governos já adotaram.
Via Cnn