O União Brasil e o PP, que anunciaram no mês passado uma federação partidária a ser confirmada na Justiça, oficializaram nesta terça-feira (2) o rompimento com o governo Lula em um comunicado conjunto em Brasília. Os dois partidos determinaram que os ministros filiados deixem a Esplanada dos Ministérios em até 30 dias. Outros integrantes das siglas devem renunciar aos seus cargos de forma imediata.
Apesar do ultimato do União Brasil e do PP com o anúncio oficial de desembarque do governo Lula nesta terça-feira, os ministros Celso Sabino (União), do Turismo, e André Fufuca (PP), do Esporte, ainda resistem a deixar seus cargos. “Fufuca é um cara de partido”, disse o presidente do PP, Ciro Nogueira, à Coluna do Estadão, ao pressionar para que o correligionário abandone a Esplanada. “Vai prevalecer o bom senso”, emendou.
Os dois partidos, que formalizaram recentemente uma federação, comunicaram a decisão de desembarcar do governo em um pronunciamento que durou menos de 1 minuto, em um aceno ao ex-presidente Jair Bolsonaro, cujo julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF) teve início nesta terça-feira, 2.
As negociações sobre o futuro de Sabino e Fufuca, no entanto, devem continuar nos próximos dias. Integrantes dos dois partidos, que formalizaram recentemente uma federação, dizem que os filiados terão até o dia 30 de setembro para sair do governo, ou passarão por um processo de afastamento e, posteriormente, expulsão.
O movimento já vinha sendo calculado há meses, mas ganhou força depois que o presidente Lula externou críticas ao presidente do União, Antonio Rueda, durante uma reunião ministerial e cobrou apoio dos ministros ligados ao Centrão. Até então, as legendas planejavam adotar uma definição apenas no ano que vem, às vésperas da definição das candidaturas.
O momento escolhido para o anúncio também guarda relação com o início do julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro no Supremo Tribunal Federal (STF). A federação tem orbitado em torno do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), cotado como um dos potenciais herdeiros de Bolsonaro – o ex-presidente está inelegível até 2030.
O movimento também acontece como resposta do futuro presidente da federação, o senador Ciro Nogueira (PP-PI), às denúncias divulgadas pelo site ICL que apontam o suposto recebimento de propina do PCC por parte de Nogueira em um esquema desbaratado pela Polícia Federal (PF) na semana passada. De acordo com o portal, o relato foi oficializado em depoimento de uma testemunha anônima que teria ouvido a informação de Roberto Augusto Leme da Silva, o Beto Louco.
O ultimato amplia a pressão sobre os ministros do Turismo, Celso Sabino (União Brasil-PA), e dos Esportes, André Fufuca (PP-MA). Outras duas indicações atribuídas ao União Brasil, Waldez Góes (Integração e Desenvolvimento Regional) e Francisco Sequeira (Comunicações), estão na cota do presidente do Senado Federal, Davi Alcolumbre (AP), filiado a legenda. Góes está licenciado do PDT e Sequeira, por sua vez, não tem filiação.
Como mostrou O GLOBO na semana passada, Sabino se reuniu com Lula e fez um último apelo a Antonio Rueda para permanecer do partido, mas teria ouvido do cacique que teria que se desfiliar do União Brasil para manter o cargo. Tanto o titular do Turismo quanto Fufuca são cotados para disputar o Senado em seus estados com o apoio do presidente da República.
Os dois partidos também mantêm indicações em diferentes estatais. O PP, por exemplo, tem o presidente da Caixa Econômica Federal, Carlos Vieira. Nos bastidores, porém, a indicação é atribuída ao ex-presidente da Câmara Arthur Lira. Não se sabe, porém, se o ultimato também valerá para os cargos menores.
O veto vai atingir somente filiados e não deve atingir cargos no governo indicados pelo presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), e pelo ex-presidente da Câmara Arthur Lira (PP-AL). Alcolumbre apadrinhou os ministros das Comunicações, Frederico Siqueira Filho, e o da Integração Nacional, Waldez Góes. Já Lira indicou o presidente da Caixa, Carlos Vieira.
— Informamos a todos os detentores de mandato que devem renunciar a qualquer função que ocupem no governo federal. Em caso de descumprimento desta determinação, se dirigentes dessa federação nos seus estados, haverá afastamento de ato contínuo. Se a permanência persistir, serão adotadas punições disciplinares previstas no estatuto. Esta decisão representa um gesto de clareza e coerência. É isso que o povo brasileiro e eleitores exigem dos seus representantes — disse o presidente do União Brasil, Antônio Rueda, em comunicado lido no Congresso, nesta terça.
O União Brasil marcou a reunião da Executiva em que o desembarque deve ser selado para amanhã. O PP deve fazer o mesmo nesta semana. Os dois partidos querem fazer uma federação e a ideia era sair do governo apenas depois que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) desse aval para aliança, mas a decisão foi precipitada por conta das críticas de Lula.
Dirigentes dos partidos do Centrão dizem que as falas de Lula provocam uma “situação constrangedora” para os partidos e também para o governo e que não daria para ficar os próximos meses tendo um filiado na Esplanada.
Ao mesmo tempo em que distanciam do petista, os partidos tentam convencer o ex-presidente Jair Bolsonaro, que ainda resiste em apontar um apoio para 2026, a indicar Tarcísio como seu candidato a presidente no ano que vem.
Por sua vez, Sabino e Fufuca ainda não deram sinalizações de que vão sair do governo e nem do partido. Mesmo assim, o entendimento da cúpula do União-PP é que não dá para ser filiado a um dos partidos e continuar ministro no atual clima de acirramento político.
Jonh Cutrim